domingo, 16 de junho de 2013

Van Gogh por Lautrec

Um dos pontos que mais me chamou a atenção na leitura de "Toulouse-Lautrec: Uma vida", de Julia Frey, foram as impressões de Lautrec acerca do ainda desconhecido, jovem e "estranho" Van Gogh. O semblante taciturno e as mãos tensas são retratados em um dos seus quadros, de 1887, intitulado Retrato de Vincent van Gogh. Esse sentimento de distanciamento da boêmia, da inabilidade e dificuldade social, o de não se sentir compreendido pelo mundo, e, a frustração por não ter sua arte reconhecida se faz presente não apenas nessa tela de Lautrec (que aliás, é um mestre em capturar a "aura" humana) mas, também,em um dos comentários de Suzane Valadon, uma das supostas companheiras de Lautrec.

Nas festas, aos sábados, no estúdio de Lautrec, Suzane lembra-se de encontrar um Van Gogh que, na minha impressão, estava ávido por algum tipo de aceitação, de acolhimento, talvez. Segue o registro de Valadon:

" Ele costumava chegar carregando uma tela pesada debaixo do braço, que colocava num canto bem iluminado e esperava até que alguém a notasse. Ninguém dava a mínima. Ele se sentava bem em frente do trabalho, examinando os olhares alheios e participando pouco das conversas. Por fim, enfastiado, ele ia embora, levando o último exemplar de seu trabalho. No entanto, voltava na semana seguinte e punha-se a realizar a mesma estratégia de novo".


Retrato de Vincent van Gogh (1887) por Henri de Toulouse-Lautrec
O retrato de 1887 parece ser uma homenagem a pessoa e arte de Van Gogh, pois Lautrec se utiliza do estilo artístico do holandês em vários quesitos, como a pintura em pastel, os formatos de vírgula das pinceladas, além dos diversos traçados coloridos. A personalidade, ou então, a visão de que muitos tinham de Van Gogh, parece ser muito bem demonstrada nesta obra. Quieto, triste e, como disse um dos seus colegas do estúdio Cormon, o pintor inglês A.S. Hartrick, aspecto "mirrado" e "abatido".

Van Gogh também apreciava a arte de Lautrec, já que quando seu irmão Théo comprou Poudre de riz (Pó-de-arroz), Van Gogh elogiou a obra de Lautrec e em carta sugeriu que seu irmão a deixasse exposta ao lado de uma obra sua, o Velho Camponês. O trecho da carta diz:

" Não acho que meu camponês prejudique o seu Lautrec se forem postos lado a lado, e até sou atrevido o suficiente para esperar que o Lautrec se destaque mais pelo contraste mútuo. Por outro lado, minha figura ganharia com a justaposição estranha, porque o aspecto bronzeado, embebido em sol e varrido pelo vento iria se mostrar de forma ainda mais efetiva ao lado de todo aquele pó facial e daquela elegância".


Pó-de-arroz (1887) Henri de Toulouse-Lautrec

Velho Camponês (1888) Vincent van Gogh




Ainda em 1888 Vincent decide mudar-se de Paris para Arles, no sul da França, terra natal de Lautrec. Não há nenhum registro de que Henry tivesse falado a ele que estaria no sul a possibilidade de construir o estúdio imaginado, a escola do futuro mas, como aponta Julia Frey, é provável que os dois pintores tenham conversado sobre isso e Henry, conhecedor dos "ares" do Sul, talvez o tenha influenciado na sua partida, pois imaginou que seria o clima e a luz do Sul o ar perfeito para a escola que Van Gogh almejava.

É em Arles que Van Gogh realiza a famosa série de três quadros intitulada Quarto em Arles, pintados em um dos cômodos, alugado, da A Casa Amarela, outra obra sua. E é, também, ao sol do Sul que Vincent pinta outra série de quadros retratando a natureza local, inclusive, um deles leva o nome do blog: Vista de Arles, Pomar em Flor.

Vista de Arles, Pomar em Flor (1889) Vincent van Gogh





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